O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim considera que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia foi firmado “no pior momento possível” em termos do equilíbrio de forças entre as partes, em momento de “grande fragilidade negociadora”, e teme que isso gere condições mais favoráveis para o bloco europeu do que para os países sul-americanos.
“O momento é o pior possível em termos da capacidade negociadora do Mercosul, porque os dois principais negociadores, Brasil e Argentina, estão fragilizados política e economicamente”, diz Amorim, que foi chanceler durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Acho que por isso a União Europeia teve pressa. Porque sabe que estamos em uma situação muito frágil. E quando se está em uma situação frágil, se negocia qualquer coisa. Isso me deixa preocupado. Eu temo que tenham sido feitas concessões excessivas”, diz Amorim à BBC News Brasil.
Para Amorim, o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos do presidente Donald Trump também deve ter contribuído para que os europeus se apressassem a firmar um acordo. Nesta sexta-feira, após reunião bilateral marcada por trocas de elogios, Trump e Bolsonaro posaram para foto sorridentes.
“Com toda a adesão do Brasil (aos EUA), talvez tenham visto nisso uma oportunidade de agir logo, como quem diz, ‘vamos pegar agora o que dá, e depois a gente discute o resto'”, considera Amorim.
Depois da China, a União Europeia é o segundo parceiro comercial do Mercosul, que, por sua vez, é o oitavo do bloco europeu.
Amorim enfatiza não ser contra a ideia do acordo e desconhecer os termos que foram firmados. “Mas recebo a notícia com um pé atrás porque o diabo mora nos detalhes, e a minha suspeita é que os detalhes não devem ser bons”, considera.
Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou que os detalhes do acordo só serão revelados nos próximos dias.
Fonte: BBC