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Opinião: Direita, esquerda?

Por Jacques Ribemboim – Economista ambiental

Nas décadas de sessenta e setenta, sabia-se exatamente o que era ser de direita ou de esquerda. A direita defendia o capitalismo e a esquerda, o socialismo e o comunismo. Direita e esquerda eram conceitos diametralmente antagônicos, com significados bastante precisos. Nos meios intelectuais e estudantis, sonhava-se com a revolução do proletariado, a extinção das classes sociais e o fim da propriedade privada. Nos bastidores, Estados Unidos e União Soviética travavam a grande batalha pela hegemonia do planeta.

Com o correr dos anos, a polarização ideológica vai se esmaecendo até quase desaparecer nos anos oitenta, sob a égide do neoliberalismo. E eis que reflui nos últimos anos com força total, principalmente na América Latina – esse pobre continente nunca liberto de seus líderes populistas e redentores.

A rigor, os termos “direita” e “esquerda” foram cunhados na Revolução Francesa, quando girondinos e jacobinos tomavam assento à droite et à gauche na Assembleia Nacional. Mas foi somente em meados do século 19 que adquiriram consistência científica, sobretudo a partir das teses de Marx e Engels. Infelizmente, decorridos cem anos da publicação de O Capital, o que era uma cisão ideológica transformou-se em uma cisão geográfica intercontinental, com os países lutando entre si e se digladiando internamente. O resultado nefasto foi de cento e cinquenta milhões de mortos.

E hoje? Terminada a Guerra Fria, desfeita a União Soviética, derrubado o Muro de Berlim e emersa a questão ambiental, o que teria restado da velha dicotomia direita-esquerda? Uma simples dissonância quanto ao tamanho do Estado? Equilíbrio orçamentário, regras trabalhistas, alíquotas de tributação? Privatizações ou mais servidores públicos? Divergências quanto à ênfase na produção ou no consumo? Igualdade como ponto de partida ou como ponto de chegada?

Não restam dúvidas de que anda difícil se conceituar direita e esquerda em nossos dias. O receituário das doenças sociais perdeu sua abrangência e abandonou as certezas de outrora. Em cada território, em cada grupo social, em cada momento do desenvolvimento, as propostas podem se alternar. Sob determinadas circunstâncias, é recomendável um maior intervencionismo. Em outras, laissez-faire, laissez-passer! Políticas que ampliem o alcance de oportunidades, por exemplo, são urgentes em populações com má distribuição de renda, requerendo um investimento público massivo, lexicográfico, em educação fundamental e ensino técnico – algo bastante diferente das práticas assistencialistas que vogam há décadas no Brasil.

Apesar da dificuldade conceitual, formam-se autênticos esquadrões de lado a lado, espaços para provocações que cindem a população e afastam os oponentes. Coxinhas e mortadelas, bolsominions e petralhas, milicianos e esquerda caviar. Em plena modernidade líquida, as armadilhas conceituais proliferam na mídia e nas redes, erguendo cartilhas e patrulhamento. Um cabra da direita tem que cortar o cabelo, usar sapatos, cursar engenharia e admirar Bolsonaro. Se for da esquerda, o estereótipo contrário: exibir cabeleiras exóticas, andar de sandálias, cursar humanas e achar que Lula é inocente. Um maniqueísmo que oblitera a inteligência e amordaça o espírito.

As correntes de direita e esquerda (sejam o que forem) também divergem quanto ao método para conseguir a almejada justiça social, incluindo os direitos das futuras gerações. Uma parece optar pela transição evolutiva, gradual, por meio da poupança e do investimento. Entende que o liberalismo econômico gera empregos e aumenta o bem-estar. Crescer para depois dividir. A outra, por sua vez, deseja transformações imediatas, valendo-se da redistribuição de curto prazo. Defende uma maior taxação sobre a produção e a propriedade, apostando na tutela do Estado sobre o cidadão. Dividir para depois crescer.

A grande falha da direita contemporânea (entenda-se como quiser) é centrar seu discurso na economia e nos mecanismos de mercado, permitindo que a esquerda se aproprie de toda uma agenda moral positiva, abarcando inclusão, direitos humanos, igualdade de gênero, proteção ambiental, diversidade sexual e respeito às minorias. Em seus extremos, a direita se considera detentora do monopólio da eficiência e a esquerda, do monopólio da bondade, fazendo uso de uma retórica carismática e de forte apelo emocional, amplamente aceita entre os mais jovens. No mundo real, contudo, falhou incrivelmente em todos os itens dessa pauta.

Por mais paradoxal que seja, políticas baseadas no ideal romântico do ser humano costumam acarretar resultados decepcionantes. A História mostra ser mais prudente apostar na natureza primitiva do homem e, desse modo, extrair-lhe o melhor em proveito de todos, inclusive a sua capacidade de ser solidário. Por via do mercado, tendo o Estado como facilitador, corrigindo as falhas.

2 comentários sobre “Opinião: Direita, esquerda?

  1. Demétrio Magnoli de Souza

    Se for ver a esquerda e o socialismo em cidades pequenas como Salgueiro, vai se deparar com um grande conflito, onde a cidade é pequena para suportar tanto emprego comissionado para os esquerdistas que querem viver bem as custas dos outros, em outras palavras bem mais claras esse pessoal da Zebra que se acostumou a viver na sombra do poder da Prefeitura, vão trabalhar bando de oportunistas.

  2. Socialista sincera

    Como vc mesmo falou, a esquerda defende uma ideologia, o socialismo e ou comunismo. E não políticos. Só que os políticos citados que decidem por isso tem uma ideologia de esquerda. Não pode confundir uma ideologia com os políticos. Esse texto só confunde mais os extremismo. E realmente com essa confusão ideológica, causou e causa muitas mortes, principalmente do proletariado. Quem não sabe como o capitalismo funciona? Ele precisa de mão de obra barata porque seu único objetivo é o lucro. O Socialismo já busca sanar as desigualdades sociais que são causadas pelo capitalismo. Dessa forma, não há o q discutir, direita é o neoliberalismo, é toda a riqueza nas mãos de meia dúzia e do outro lado as expressões sociais que ela causa. Pobreza, miséria, desigualdades, escravidão, entre outros. E então a esquerda luta contra essas desigualdades. Independente de quem seja o político. Mas a ideologia é essa, lutar contra as desigualdades.