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O movimento do Comando Vermelho para interferir na campanha eleitoral no Ceará

O Comando Vermelho, facção criminosa criada no Rio de Janeiro, está tentando dar as cartas nas eleições este ano no Ceará. “Nós tivemos informações de que indivíduos ligados a este grupo criminoso estariam impedindo que moradores de algumas comunidades de Fortaleza veiculassem propaganda de certos candidatos e trabalhassem em determinadas campanhas”, afirmou ao EL PAÍS o procurador regional eleitoral do Estado Anastácio Tahim. Para fazer frente a esta ameaça foi solicitada ao Governo Federal a presença de agentes do Exército em cinco cidades cearenses: Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral, todas com mais de 100.000 habitantes. O pedido ainda precisa ser endossado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará antes de ser enviado ao Tribunal Superior Eleitoral. Tahim não quis entrar em detalhes sobre quais bairros da capital estariam sofrendo com a ação da facção.

Nos últimos anos o Estado se tornou uma das principais linhas de frente da batalha travada entre o Primeiro Comando da Capital e seus ex-aliados do CV, com a ajuda de grupos locais como os Guardiães do Estado e a Família do Norte. Desde 2016 a violência voltou a tomar conta das periferias da região, após um breve período conhecido como a pacificação nas favelas, fruto do acordo de paz entre CV e PCC, que ruiu no final daquele ano.

A ordem para que certos candidatos fossem boicotados nos bairros consta em um bilhete anexado ao pedido da procuradoria. “Existe uma circular atribuída ao CV ameaçando e orientando os moradores de certas comunidades com relação a quais candidatos tem propaganda vedada no bairro”, diz Tahim.

No texto, se lê: “Circular informativa do CV-CE. Viemos por meio desta comunicar que todas as nossas comunidades não venham a aceitar campanha política do partido chamado PROS. Partido esse que apoia o Vitor Valin [deputado federal], capitão Wagner [candidato a deputado], Jair Bolsonaro [PSL, candidato à presidência], entre outros policiais que apoia (sic) todo tipo de conduta antidemocrática contra comunidades carentes”. Mais à frente, o comunicado atribuído ao CV diz que “esses políticos apoiam a ditadura, a tortura e tudo que é contra o povo carente”.

O domínio dos territórios onde é feito o comércio de drogas é apenas o primeiro passo do crime organizado, diz Tahim. “A partir do momento em que essas facções ocupam seus territórios, em alguns inclusive o policiamento já não entra, eles começam a ter contornos e pretensões eleitorais”, afirmou. As informações sobre a ação do Comando Vermelho nas eleições foram repassadas à Procuradoria Regional Eleitoral e ao Ministério Público via denúncias anônimas de moradores, e confirmadas por alguns manuscritos de autoria de criminosos.

Indagado se algum candidato está atualmente sendo investigado por ligação com criminosos, Tahim disse que não poderia responder, mas afirmou que “isso já aconteceu em outras eleições” no Estado. Para ele, este tipo de ação de grupos criminosos é uma grande ameaça à democracia. “Na medida em que você tem um grupo armado tolhendo a livre manifestação e o voto de cidadãos, você tem um sério comprometimento das eleições”, diz o procurador. “Este risco existe, tanto existe que fizermos a solicitação [para o envio de forças federais]. Se não acreditássemos na existência do risco não estaríamos solicitando este auxílio”, afirma.

Fonte: EL País