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‘Celebrar Aparecida sem Papa é triste’, diz dom Damasceno

Há 300 anos, três pescadores mudaram a história do catolicismo brasileiro após jogar suas redes no rio Paraíba, no interior de São Paulo, e pescar uma imagem de barro decapitada. A escultura negra encontrada era a Nossa Senhora da Conceição, que anos mais tarde se tornaria símbolo do país, recebendo o título de Padroeira do Brasil. Ao longo dos últimos dias e até esta quinta-feira (12), os fiéis celebram o aniversário de aparição da santa com uma intensa programação no Santuário Nacional de Aparecida, que inclui romarias, novenas, shows e missas especiais.

“O mais importante tem sido a preparação, porque a celebração em si produz frutos à medida que ela é bem preparada. Eu creio que a melhor preparação que nós fizemos para celebrar os 300 anos, que começou em 2014, foi justamente a peregrinação da imagem da Nossa Senhora Aparecida pelas dioceses de todo o Brasil”, explicou à ANSA o arcebispo emérito da Arquidiocese de Aparecida, cardeal dom Raymundo Damasceno. 

 Segundo ele, neste período, a imagem visitou “os hospitais, as paróquias, os presídios, as periferias das cidades e as escolas, de tal modo que a grande mensagem foi levada ao povo brasileiro: a imagem, que é a mãe de Deus, que quer fazer de todos nós discípulos”.  “Eu considero uma verdadeira missão”, acrescentou ele, ressaltando que a devoção dos fiéis a Maria tem crescido muito no Brasil e até mesmo na América Latina

Desde o dia 1º de setembro, quase 5 mil romeiros estão caminhando rumo ao Santuário. Nesta quinta (12), é estimado que a cidade reúna em torno de 200 mil peregrinos para a missa solene pelos 300 anos do surgimento da imagem. Para o arcebispo emérito, “Maria é parte da nossa fé”. “Ela tem um papel fundamental na história da salvação. Nós não podemos separar Maria de Jesus e vice-versa. “Um verdadeiro cristão e filho de Deus ama e sabe da importância de Maria”, disse.

A missão fez com que ele fosse nomeado “embaixador” da imagem de Nossa Senhora Aparecida. “O primeiro lugar que eu levei a imagem fora do Brasil foi em Praga, na igreja da Nossa Senhora da Vitória, conhecida como Menino Jesus de Praga, onde a imagem é venerada”, explicou ele à ANSA. “O objetivo é tornar conhecida a Aparecida, a imagem da santa e a história do nosso povo. É uma oportunidade que eles têm de se lembrar do Brasil. É um momento em que as pessoas podem rezar pela nossa pátria, seja como turista, romeiro ou habitante desses países. É uma aproximação dos povos”, ressaltou.

O religioso já entronizou imagens da santa em diversas igrejas de países como República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Estados Unidos, Colômbia e Portugal. Ainda neste ano, ele levará Aparecida para Líbano, França e Argentina. “Na Itália, nós levamos no ano passado uma imagem para os jardins do Vaticano. Em setembro, nós levantamos um monumento que retrata a história. Lá tem a imagem, os pescadores, e a rede é feita com peixes. Inclusive, o papa Francisco esteve presente”, explicou o arcebispo. Em abril deste ano, Francisco enviou uma carta ao governo brasileiro recusando o convite feito pelo presidente Michel Temer no fim de 2016 para participar das celebrações dos 300 anos da aparição de Nossa Senhora no rio Paraíba.   

Na ocasião, o Pontífice disse que, devido a sua intensa agenda, não poderia visitar o Brasil. Mesmo após a decisão, o prefeito da cidade de São Paulo, João Doria, viajou para o Vaticano e pediu para Francisco reconsiderar o convite, que novamente foi recusado.”Nós compreendemos a agenda do Papa, mas claro, nos deixa com o coração [apertado], dá até tristeza, evidentemente, porque celebrar os 300 anos do encontro da imagem em Aparecida, padroeira do Brasil, com a presença do Santo Padre, seria outra coisa”, lamentou Damasceno. No entanto, na última segunda-feira (9), Francisco enviou o cardeal Giovanni Battista Re, prefeito emérito da Congregação para os Bispos, para ser seu representante durante as celebrações do jubileu e presenteou o Santuário de Aparecida com uma rosa de ouro.”Ele teve a consideração de enviar um legado seu, mas é um representante apenas, não é o Papa, como todos os brasileiros gostariam de tê-lo aqui e recebê-lo mais uma vez”, finalizou o cardeal.   

Fonte: Agência ANSA